Sexo/Sombra
S
edição do Autor
com o apoio da Traveller
design de capa de Sérgio Pereira
a partir de fotografia de Amélia Loureiro
1.ª edição
Junho de 2019
Excertos
(I)
Viver sexo sempre
Dar
O mais íntimo
O que não me pertence
(III)
Despontam todos os traços de uma vida sozinha, em curso,
Ao ato
De entrar na casa e no corpo
Imediato, colhido
De passagem por trecho rua Histórica Avenida, e agora
Crescentemente próximo
(para outro susto no giro do gozo)
À mão
Igual a mim, repete
“Igual a mim”
(VI)
sem destinatário –
um jorro natural
ou quase
enquanto as cotidianas contas alianças
tíquetes de viagem às fontes
dão-se, dobram/
umbigo-boca aberta
crisma e refrata
a compartilhada miragem
A poesia de Mauricio Salles Vasconcelos tem a densidade de uma cena de Godard, cineasta estudado por ele em História(s) da Literatura. Como nos filmes de JLG, comenta e ilumina o nosso tempo: imagens pensantes que atingem uma autonomia que jamais se desvincula de uma ideia que atravessa conceitos para tocar e tornar visíveis dimensões da realidade.
Eu já havia apontado com entusiasmo essa característica de criar imagens que pensam por si mesmas, quando apresentei o romance de MSV Ela não fuma mais maconha (2011), mas nos poemas essa característica está potencializada e alcança momentos de hierofania.
Além do cinema, a poesia de Salles Vasconcelos dialoga com a cultura pop. Se críticos musicais como Alex Ross e Lester Bangs resvalam no poema em seus textos sobre música, Mauricio revela que existe uma poética emancipada tanto da efemeridade quanto da dimensão do esquematismo dentro do universo das canções pop e que esse universo pode estar conectado com a dimensão do ser do Poema.
O próprio corpo, tão presentificado na poética de MSV, tem o status cósmico de uma canção dentro de um filme.
Marcelo Ariel